sábado, 30 de janeiro de 2010

Do Verão, me dê o sol e a chuva!


Carlos Drummond de Andrade em ‘Caso pluvioso’ denominou Maria como a chuvosíssima criatura. Eu, Maria do Carmo, arrisco dizer que talvez seja destas criaturas de identidade pluvial de Drummond. Eu gosto de chuva de bom caráter, não só para dormir ou combinar com domingos de ressaca. Agrada-me a poesia da chuva, de vê-la faceira adentrando o vale pintando de branco minha cidade, irrigando com fartura as hortas e refrigerando a brisa. Quem não gosta de cheiro te terra molhada, bom sujeito não é.
As chuvas no tom máximo de mansidão para o verão, me confortam, embalam. Já as tempestades que ainda sabem como não causar o caos, me metem um medo infantil gostoso. Experimento uma sensação invasiva estranha diante daquela enorme massa de nuvens sinistramente escuras que roncam esbravejantes, galopantes, com iluminação própria de discoteca. Quando elas chegam preenchem a solidão do dia, rompendo o silêncio cruel de uma tarde. À noite promove melodiosa sinfonia de gotas tocando telhados e vidraças. Não as quero escalando com atrevimento as serras e desembestando trombas d’águas em nosso pacato Lenheiro, precipitando raivosas em cubos de gelo, com ventos assassinos de palmeiras imperiais e se transformando em desembaladas enchentes das goiabeiras.
Desejo chuvas que caem com graça cheias de encantamento, daquelas abençoadas por um São Pedro muito bem humorado. Chuvas assim sim todo fim de tarde! Vindas de todo canto, não só do ‘arauto pluvioso’ como Jota Dangelo definiu a Serra do Lenheiro. Chuvas amigas amenas, tempestades bem temperadas, chova linda nas esquinas da alma, ensinando a arte de ser intempestiva, de ser também aquosa e passageira, cessando quando convém para dar lugar à bonança!