segunda-feira, 30 de março de 2009

Ao mercado!

Delicioso como uva docinha é o texto “Existe um lugar”, sobre o mercado municipal de São João del Rei, publicado na última edição da Gazeta. Lugar mesmo ludicamente fascinante que hoje passa meio despercebido, mas mágico de se apreciar! Rose de Deus, você não poderia ter se expressado melhor! Boa dica! Ao mercado!
Eu lembro que lá em casa tinha a sacola de ir ao mercado (olha que ecológico!), era listrada em tons de verde, com alças pretas de plástico. Ela ia de manhã cedo enroladinha debaixo do braço do papai e voltava repleta de laranjas, verduras e legumes, tudo muito fresquinho! Era chegar, ganhar um sorriso do(a) verdureiro(a), pegar logo uma baciazinha colorida e escolher o que se desejava. E cada banca com sua especialidade, suas réstias de alho penduradas, seus truques promocionais, suas novidades de horta, seus segredos de cultivo, suas histórias infindáveis para explicar o produto em falta. “Tem, mas acabou, volte amanhã, vai chegar mais”. Nos fins de semana de festa comprava-se também no mercado, flores naturais, como boca-de-leão, copo de leite, lírio, cravo e chuva de prata, que eram muito bem arranjadinhas pela mamãe na poncheira de cristal (é isso mesmo, a poncheira virava jarra!). Era do mercado o melhor peixe, os ovos mais graúdos, os preços mais discutidos, as gargantas mais alteradas, a cativante cordialidade. Que saudades de pegar a sacola verde e ir ao mercado!
Essa coisa de ficar lembrando do mercado, dos cheiros, me fez lembrar de uma fruta que não se comprava no mercado, mas isso é assunto para outro post...
Foto: Mercado Municipal por André Luís Vieira

sexta-feira, 27 de março de 2009

Ecos de Passos e Dores

Eu nem ia postar mais nada sobre o assunto, senão podem dizer que este blog é pró-catolicismo, mas ó se isso não dá uma crônica...
Por dois anos consecutivos, Nosso Senhor dos Passos recusou, com toda cordialidade implícita numa daquelas chuvas teimosas, a acolhida de uma noite sob o olhar da venerável Ordem Terceira, na igreja de São Francisco. A procissão do Depósito deu-se na manhã seguinte, domingo, sob um céu tomado de nuvens ainda ameaçadoras. Ano passado, confesso, achei o máximo aquela novidade, um Depósito com luz, inovação para minhas lentes e coleção de registros da festa. Mas dois anos e... deu! No sábado eu já senti um pesar danado, uma melancolia, nada como o ritual da noite, com o brilho das lanternas e tochas, um retiro ao Pretório sombrio e enternecido, como a escuridão do fim do dia proporciona. Munidos da experiência do ano anterior, a Ordem Terceira já se adiantou e colocou as tradicionais hortênsias aos pés de Jesus lá mesmo na Matriz, de manhã cedo e assim na Rasoura tivemos o andor conforme a tradição. Porque, claro, mal chegou da caminhada do Depósito já saiu Jesus com sua cruz a rodear a igreja de São Francisco. Será que na programação do ano que vem colocarão o Depósito já na manhã de domingo de uma vez??? Ah não...
Mal sabia o Senhor dos Passos o que estava por vir (ou sabia?). O Domingo foi de chuva, chuva das boas, constante até lá pelas oito e meia da noite. Encontro cancelado e não houve como escapar, enfim o esperado pouso com a hospitalidade humilde de Francisco e ao mesmo tempo tão rica que só as linhas da arquitetura barroca rococó podem proporcionar. Já Nossa Senhora das Dores com mimosas rosas lilases aos pés, permaneceu mais uma noite com as filhas carmelitas em adoração, no templo do Carmo.
E tome mais um dia de ‘combates’ numa sonora e badalada segunda-feira de quaresma, de sol! E tome mais borrifadas nas orquídeas da cruz para não perderem o viço. E tome mais ansiedade de uma mãe que não vê a hora de rever seu adorado filho. Eis que o sol não perdurou e no fim da tarde vieram outras nuvens a despencar águas de março. Ah esses desencontros da vida!
Não! A arte da vida é o Encontro! Às oito e meia da noite desta mesma segunda-feira com algumas poucas estrelas no céu, após 30 minutos de sermão, numa dramatizada Rua da Amargura no Largo da Câmara um pouco vazio, ficaram face a face Jesus e Maria ao som de Miserére mei, secundum magnam misericordiam tuam. De arrepiar! Aos órfãos do Encontro 2009, aqueles visitantes e são-joanenses que vieram à cidade só para a ‘festa’ e foram embora no chuvoso domingo... Foi lindo, viu?
Foto1: Entrada do ‘quase-inédito’ Depósito de Nosso Senhor dos Passos na manhã de domingo.
Foto2:Nossa Senhora das Dores em veneração na Igreja do Carmo

terça-feira, 24 de março de 2009

Faceira

Às vezes, de vez em quando, quando não muito, bem esporadicamente entretanto...
ataca-me uma quase-ambição publicitária.
Eis um texto que fiz para a design de bijuterias Angela Del Duca de Freitas, minha querida prima,
para a sua grife 'Maria Faceira'

Num ligeiro olhar: O tom alegre e jovial das cores, um diferencial sutil e uma vontade de inventar moda...Na verdade é muito mais! Mas como primeira definição das armas da design de bijuterias, Ângela Delduca de Freitas, está razoável!
De família de artistas, artista se tornou. Paulista com alma mineira, esta geógrafa faz fitas decolarem, contas se enroscarem numa doce cadência, fuxicos se despontarem como botões recém-chegados, crochês atuarem como poesia. Com inventividade a transbordar, amor incondicional pelo que faz e a simples alegria de viver, Maria Faceira vai criando colares, pulseiras, brincos, bolsas e outros coadjuvantes da beleza “menina-mulher”, ”batalhadora-sonhadora” de hoje. Acessórios encantadores que regalam os olhos e algo mais dentro da gente. E cada um leva um pouquinho do carinho da artesã que tem como maior realização a satisfação de quem vibra com suas peças!
E Maria Faceira é pra usar na rua, no trabalho, na noite, só para você mesma, nos encontros com as amigas, e em momentos daqueles que julgamos inesquecíveis, ou ainda daqueles momentos simples e únicos da vida que nem pareciam, mas tornaram-se também eternos!
Ângela já fez parte da equipe de estilo da Cantão, já produziu peças pra Melissa de Juiz de Fora-MG e expõe suas criações em feiras pelo país.
Mariafaceirar-se é exalar alegria, é despojar-se naturalmente do comum, é inundar-se de cores! Coloque no rosto seu mais luminoso sorriso, daqueles que só pessoas do bem têm como espontâneo, se enfeite com uma bijuteria Maria Faceira e vá caminhar pela vida!
Maria Faceira – Arte em Bijuterias

segunda-feira, 23 de março de 2009

De verdade

Como sou dona de uma ambição literária, isto inclui devorar livros e mais livros, certo? Nãooo... Tenho que confessar, leio muito, mais muito menos do que eu gostaria. Tenho na minha lista ‘para ler em breve’ uns muitos livros, comprados, ganhados e/ou emprestados, estão lá esperando por mim. Mas quero deixar claro que amo livros, autores, resenhas e principalmente livrarias lindas e enormes! E mais ainda, sou louca para ter uma biblioteca em casa, daquelas bem bacanas de vários livros de todos os tipos, tamanhos, volumes e cores, todos bem à mostra, tá? Dá pra entender? E os livros que abandonei? Chegava curiosa, empolgadérrima e na terceira página...’hmmm que chato’! Foi assim com, por exemplo: “Ócio Criativo”, “O Código Da Vinci”, “Ilusões Perdidas” e todos do Paulo Coelho (aliás, alguém me explica porque que ele faz tanto sucesso?). Dentre os que li recentemente, devorei “O Abusado” de Caco Barcellos, amei ‘Quase Memória’ do Cony - assim bem despretensioso e fofo, e agora estou completamente fascinada por “De verdade” do húngaro, Sándor Márai.
Romances à parte, minha paixão é a crônica, por isso leio com gosto tudo do gênero, de Carlos Drummond de Andrade à Fernanda Young. E tantos outros e outras por aí, não só em livros, mas muito mais em jornais, revistas e internet. Em São João, gosto de Jota Dangelo e José Antônio.
Enfim, deixo como dica de leitura, o livro ‘De verdade’ deste autor nascido no então império Austro-Húngaro, que suicidou-se aos 89 anos, curioso não? É um livro denso, extremamente envolvente que traz uma rica narrativa em quatro etapas, com quatro narradores diferentes sobre uma mesma trama que se passa na alta sociedade de Budapeste, Hungria.
E a ambição continua...

quinta-feira, 19 de março de 2009

O verão e São José

Oh poderosíssimo São José, contido esposo de Maria
Neste 19 de março dedicado à vós
Agradeço pelos dias de intenso brilho deste verão que se finda
Nós, humildes devotos, não podemos reclamar
Foi tempo de bronzear, se alegrar, amar, mar
Se choveu foi pra atenuar o calor ou não
e como fez calor...
Mas vós de infinita paciência, benevolência e resignação,
Olhai por nós neste fim de mês e outono
Segura a mão nas chuvas que fecham a estação
Deixa quietar nosso córrego e nossas hortas
Dai-nos dias frescos e agradáveis para a Páscoa
Faz crescer o fruto e a esperança
Que não apareça nenhuma ruga
Já que com filtro solar nos protegemos
Embora só a benção divina nos cubra como manto...
Nos guarde também no inverno e primavera
Nos faça descobrir a beleza das mudanças
Frio, chuva, folha caída ou botão de flor
Que na alma não falte sol e amor
Amém!
Foto1: Um dia de verão em Itacaré/BA
Foto2: São José

quarta-feira, 18 de março de 2009

Passos do fim de semana

No próximo fim de semana em São João del Rei tem ‘Festa dos Passos’! As solenidades são: Depósito de Nossa Senhora das Dores na sexta, Depósito de Nosso Senhor dos Passos no sábado, Rasouras nas manhãs de domingo no Carmo e São Francisco, Procissão do Encontro e Sermão no Largo da Câmara, no domingo à tarde.
Anos atrás, num Largo do São Francisco de vastas, sadias, abundantes e verdejantes copas de palmeiras imperiais, um dedicado pai, que mais parecia um avô, explicava cada detalhe da ‘festa’ para sua filha durante a Rasoura de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos. Era preciso contar a história da comenda, aquela condecoração que se via pregada no manto de veludo roxo da imagem, e chamar a atenção para a Marcha dos Passos tocada com perfeição pela Banda do 11º BI. Ao dobrar os sinos, ensinou o porquê do chamado ‘combate’ que consiste na disputa entres os sinos das torres do Carmo, Matriz e São Francisco, cada qual reclamando sua imagem de volta, e lembrou ainda da vez que o badalo caiu no adro e quase feriu uma pessoa. Quando avistou o amigo de longa data, José Gaede, no início do cortejo, falou da sua grande dedicação à Ordem, e assim que verificou a abundância de hortênsias aos pés de Jesus, comentou que felizmente naquele ano os jardins da igreja produziram bonitas flores. Os olhos daquele apaixonado pai brilhavam, não sei se pelo belo espetáculo de fé que era a Rasoura, ao redor daquele monumento barroco com seu exuberante jardim, ou por estar ali na honrosa missão de passar adiante aquela piedosa tradição são-joanense.
Tantos anos se passaram, reformaram-se os jardins, palmeiras foram arrancadas pelo vento ou cortadas pelo homem, pessoas queridas se despediram, mas o Cristo continua sua marcha e o brilho está no olhar daquela filha!
O texto abaixo foi escrito após a Festa de Passos do ano de 2004.
Festa dos Passos
Os cheiros: Do rosmaninho espalhado no chão das igrejas do Carmo, Matriz e São Francisco, do incenso purificando as ruas por onde passa a procissão ou elevando as orações dos fiéis diante dos andores.
As cores: Das orquídeas que pendem da cruz de Nosso Senhor dos Passos, das flores do andor de Nossa Senhora das Dores, do roxo - cor da festa - que cobre as vestes das imagens e enfeitam os badalos dos sinos, dos trajes das Irmandades e Ordens, dos tons variados das hortênsias que formam o tapete onde se ajoelha Jesus.
Os sons: Da marcha dos Passos executada por nossas tradicionais bandas, do tocante silêncio dos Depósitos, dos sinos em combate que deixam mais vivas as tardes de sábado e domingo, dos cânticos da bicentenária orquestra Ribeiro Bastos, do burburinho das senhoras rezando o terço durante os cortejos, das palavras emocionadas de quem presencia tamanha manifestação de beleza e fé.
As lições: Foi um padre de São Paulo que acompanhara a festa pela primeira vez quem disse, em sermão, estar de fé renovada. Ele ateve-se a detalhes como a tradição daqueles que carregam o andor dizer “deu graça” no momento de parar, de chamar a representação do episódio do encontro da mãe e do filho de “festa”, da denominação “rasoura” para conceituar pequena procissão em torno da igreja, do carinho com que se preparam os andores, enfim de toda a emoção peculiar do evento. Coisas que para muitos de nós são-joanenses passam despercebidas. Este mesmo padre fez um apelo: Que o povo de São João del Rei preserve esta tradição. Amém, padre Carlão! AMÉM!
Foto: Imagem de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, exposta para veneração na Igreja de São Francisco-Festa dos Passos 2005

terça-feira, 17 de março de 2009

Saco de moedas

Não vou alimentar a polêmica sobre a questão da verba municipal para a Semana Santa 2009 em São João del Rei. Como diria Djavan em “Fato consumado”, No fundo eu julgo o mundo/ um fato consumado/E vou-me embora/Não quero mais/De mais a mais/Me aprofundar/Nessa história. Mas, quando envolve a questão dinheiro, as coisas sempre ficam complicadas. E eu penso que no momento que se revive o porquê de nossa fé, na hora em que nos mergulhamos numa, talvez única, reflexão no ano sobre nossas culpas mais íntimas, não deveríamos ter a preocupação com o montante que o Nivaldo irá conceder para ajudar nas celebrações da Semana Santa - um dos eventos que fomenta a atividade econômica da própria cidade que ele governa. Embora eu não consiga ver, desculpem-me, o que pode mudar nos rituais sagrados com R$60 mil (verba de 2008) ou R$ 25 mil reais (verba proposta em 2009). As flores dos andores serão menos ricas? Não será usado no programa da paróquia um papel especial? Voltemos mais os olhos para o aspecto religioso da festa, menos correria turística, menos aspecto cultural. Se todos se empenharem por preservar a Semana Santa do jeito que sempre foi, os turistas aparecerão, a cultural irá se expandir, o comércio irá lucrar, a economia se movimentará, e assim vai... E qual o custo disto, em que se gasta os recursos repassados? Qual a grande infra-estrutura que necessita o Ofício de Trevas, o Lava-pés? Tem mesmo que comparar o capital para a maior data católica com o do carnaval? Eu sei que em São João, sagrado e profano se misturam, mas atenção, nesta procissão não entra serpentina.
Ai gente, perdão, sou a primeira a defender tudo de tradicional em São João, mas eu acho que vou ver minha Ação Litúrgica da Sexta-feira Santa do mesmo jeito que vejo há mais de 20 anos, com a beleza tocante da Adoração da Cruz, com as lindas músicas da Orquestra Ribeiro Bastos na Sagrada Comunhão que arrepiam até o último fio de cabelo, com o rosmaninho pelo chão, tudinho igual. Óbvio que tudo tem um custo, nada sai de graça, nem pela paixão e morte de Jesus, mas nossa Semana Santa é assim há mais de 200 anos, será que em todos esses 200 anos a prefeitura precisou contribuir com dezenas de mil reais, cruzeiros, cruzados, contos de réis? Quem promove a Semana Santa da Matriz é uma Irmandade, a do Santíssimo Sacramento. Qualquer pessoa pode fazer parte, e contribuir anualmente com uma pequena quantia. Com muitos irmãos, a Irmandade se tornaria mais consolidada financeiramente e não dependeríamos tanto do governo municipal. Em tempo, a paróquia Nossa Senhora da Conceição em Prados realiza uma Semana Santa tão rica quanto a nossa, sem nenhuma contribuição da prefeitura e está reformando a Matriz com recursos próprios e com a ajuda da população!
O que importa é se envolver espiritualmente, é buscar enaltecer o verdadeiro propósito de reviver a dor Daquele que nos deu a força da fé, e nunca pediu verba para isso. Nossa... peguei pesado? Foi muito clichê, lugar-comum para um texto só? E olha que eu nem queria apimentar essa bacalhoada. Será que ando entrevistando padres demais esses dias?
Para ser justa deixo o link da página da Gazeta, do último sábado, com a opinião sobre o assunto da antropóloga Suely Franco.
Foto1: Tapete de rua no Largo do Rosário por Kiko Neto

Foto2: Descendimento da Cruz por Beni Jr

quinta-feira, 12 de março de 2009

Via sacra na rua

Se a chuva permitir, amanhã sexta-feira, teremos nossa última via sacra de rua de 2009. A piedosa cerimônia realizada pela tradicional Irmandade do Senhor dos Passos, sairá da Matriz do Pilar com os irmãos vestidos de opas roxas carregando a cruz preta com pano branco, tochas, lanternas e a belíssima imagem do Crucificado. Fiéis rezam o rosário, dobram tristes os sinos das igrejas próximas e a orquestra executa Motetos do compositor são-joanense Martiniano Ribeiro Bastos, diante da cada estação:
Iª Estação: Igreja de São Francisco: Jesus no jardim das oliveiras depois de rezar, recebe o beijo traidor de Judas Iscariotes, e é preso.
IIª Estação: Passinho (nome dado às pequenas capelas localizadas em algumas ruas do centro histórico da cidade, onde se tem representados os ‘passos’ da via sacra) da Rua da Prata: Vista da cidade de Jerusalém e a imagem, de Cristo carregando a cruz.
IIIª Estação: Passinho do Largo do Rosário: As mulheres de Jerusalém chorando à passagem de Jesus.
IVª Estação: Passinho do Largo da Câmara: Encontro de Nossa Senhora com Jesus.
Vª Estação: Passinho do Largo da Cruz: Verônica enxuga o rosto de Jesus.
VIª Estação: Passinho da Rua Direita: Simão Cirineu ajuda Jesus a levar a cruz.
VIIª Estação: Matriz: Jesus entre os dois ladrões morre na cruz.
Curioso como a via sacra é de rua e começa e termina com ‘passagens’ dentro das igrejas. Na última sexta-feira, uma chuvinha fina fez o cortejo entrar na Matriz, logo após o “Senhor Deus, misericórdia” no Passinho do Largo do Rosário, pulando 3 estações. Jesus não teria aprovado esta mudança em sua caminhada ao Calvário, mesmo que encurtasse o caminho, pois deixaria de encontrar sua amantíssima mãe, não teria o rosto delicadamente enxuto em linho nobre pela Verônica e não poderia contar com a valiosa ajuda de Simão Cirineu no penoso dever de levar o madeiro da sua crucificação.
Ficaram em vão esperando ainda por algum tempo, e então Maria subiu as escadarias, abriu os abraços e foi tomar seu lugar como Mãe das Mercês; Verônica ainda ficou por ali, enxugou o próprio rosto e sentou-se ao pé do Cruzeiro; Simão Cirineu também depois de muito esperar, deu uma volta na Rua da Cachaça, subiu o Beco da Escadinha e foi ter com a Mãe do Carmo. Que loucura, só em São João mesmo. Se ainda fosse para pular estações em que ocorreram as dolorosas quedas de Cristo, ou ainda poupado do ato infame de se despir de suas vestes, vá lá.
Olha meu Jesus, por mim eu continuaria, afinal trovejou e relampejou a tarde toda, o céu estava repleto de nuvens negras, enfim, a chuva se anunciou como pôde e eu levei minha sombrinha! Perto de quem carregou, sobre chagas abertas, um pesado lenho, o que é carregar um guarda-chuva? O que é um chuvisco?
Foto: Ultima Estação da Via sacra na rua, na Matriz, depois de pular 3 estações, sexta-feira, 6 de março/2009.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pão com queijo e canela

Que eu amo São João Del Rei todo mundo que me conhece já está cansado de saber. Mas o que não se sabe é porque eu babo tanto por esta cidade. Se isto é lá coisa que se explique, talvez seja por causa dos pequenos únicos detalhes daqui. E estar em São João estes dias para as eleições municipais, me faz reviver cada um destes especiais pormenores. Desde o apitar da Maria Fumaça até o badalar das horas na Matriz, passando pelo encanto de ver os telhados dos casarões iluminados pelo sol ou as luzes das igrejas à noite. São tantas particularidades, mas hoje quero falar especialmente do Pão com Queijo e Canela de uma certa padaria do centro. Legítima iguaria são-joanense ou não, que pão é aquele, minha gente? Hummmmmmm...Hoje passei em frente e não resisti. Comprei um! Mal pude me agüentar para chegar em casa e comê-lo, ou melhor, devorá-lo. E tem toda uma história, um ritual junto...A começar pelo papel, daqueles cinzas, parece que vindos de uma usina de reciclagem. Mas estes papéis são muito antigos e nasceram bem antes de toda esta onde ecologicamente correta.
Para fechar bem o pacote, um barbante! Sim, um barbante, quer coisa mais pitoresca?!! Que delícia desfazer o nó e ir desembrulhando aquele pão...E o cheiro? Cheiro de pão doce enamorado com queijo derretido e canela....hummmmm. Eu logo parti pro meio do pão onde o delicioso recheio é abundante, muito mais recheio que pão, pra falar a verdade. Fica até difícil de segurar o danado...cai queijo pra todo lado, não tem jeito. Acho até que por isso aquela casca marrom seja grossinha demais para um pão doce. Tem que reforçar de alguma forma para aprisionar o teimoso queijo em pelotas que tenta escapar dos nossos ávidos lábios desejosos de apanha-lo. Que relíquia das nossas quituteiras são-joanenses! Que primor das padarias!
E amo mais ainda aquela parte que é meio recheio, meio pão, aquela bem molhadinha, cremosinha, saca? Tão docinha, tão macia, tão saborosa, um sonho!!! Desmancho-me! É uma mistura do doce discreto da massa do pão com um que de salgadinho do queijo e uma pitada de frisson com a dona canela. Talvez comparada com uma mistura, assim de...dor e prazer, loucura e razão, amor e paixão!
A história por trás, claro, é que meus pais compravam de vez em quando lá em casa...De vez em quando, infelizmente. Era quando tinha visita (droga, tinha que dividir com a visita), um parente que veio se hospedar em casa, uma data festiva qual não teria festa e sim um lanche caprichado. Ou, a minha vez preferida, o dia de pagamento do papai. Ele passava no banco tirava o ‘ordenado’ (adoro essa palavra) e comprava o tal pão para o nosso lanche especial de ‘dia-do- pagamento-fim-do-sufoco’. Um agrado, um regalo, um brinde para o meu paladar, um carinho para minha alma infantil. Claro que eu levava uma bronca enorme, um sermão cruel porque partia o pão já lá no pecaminoso meio, atrás do ponto com recheio mais farto. A questão é que além dos meus pais, tenho três irmãos, porque eu ficaria logo com a melhor parte? Comia aquela fatia com culpa, sob um olhar desaprovador de meu pai, mas feliz com a gulosa façanha.
Hoje, parti meu pão sem ouvir reclamações, comi sem o peso da reprovação e tomada de intensa saudade. Vou degustá-lo devagar, sozinha, um tiquinho triste pela solidão momentânea, mas feliz por estar aqui na minha terra, por ter essas lembranças comigo e...o pão! Com todo o seu queijo especial, todo o seu sabor de canela, inteirinho, miolão e pontas menos privilegiadas, tudinho só pra mim!!!
Santo Antônio abençoe este pão e perdoe a minha gula!

KK Freitas, outubro/2008

quarta-feira, 4 de março de 2009

A faixa 5


Ah eu preciso contar do meu amor pela faixa 5 do CD “São João del Rei: 50 anos de samba”. A coletânea traz 15 sambas de antigas escolas são-joanenses como a “Qualquer Nome Serve” o "Cordão Encarnado", "União", e das novas agremiações como "Copo Sujo", "Chácara" e " o "Unidos da Cambalhota". O valioso registro é uma iniciativa de Jota Dangelo e seu filho, Virgílio. O show-lançamento foi na terça Se Mamãe Deixar ( a semana de pré-carnaval em São João eu chamo assim: Segunda Deixa o Mundo Girar, Terça Se Mamãe Deixar, Quarta de Lesma Lerda, Quinta das Domésticas e Sexta do Copo Sujo), 17 de fevereiro de 2009, no salão nobre do Athletic. Eu fui e comprei o cd, claro! Aliás a Claro patrocinou o projeto.
Acordei na quarta-feira de Lesma Lerda louca pra ouvir o CD. E fui me deliciando com um samba atrás de outro, conhecidos e desconhecidos, mas todos com gostosa cadência. Até que veio a faixa 5, Cambalhotas 2008 que fala sobre os sinos de São João. Eu já tinha escutado o tal samba meio aos trancos e barrancos durante o próprio bloco em 2008, em alguns gritos de carnaval que anteciparam a folia deste ano e também no show-lançamento. Adorei a sonoridade, mas ainda não tinha entendido toda a letra, sabia apenas que um trecho dizia: ‘Dou cambalhota imito os sinos de São João’. Aí ele já tinha caído no meu gosto, nasci e cresci do lado destas torres da Matriz, meus irmãos foram sineiros, conheço cada repique, cada dobre destes sinos, das badaladas das horas à ladainha de Nossa Senhora da Boa Morte!
Quando percebi que se tratava do samba que eu tanto perseguia fiquei radiante. Fui seguindo a letra do encarte e me encantando cada vez mais. E não é que bem na hora em que o samba citava: “Alvorada... Sob o olhar dos sinos...” escutei o sino da matriz repicar (eu moro num prédio no Bonfim, tenho uma visão privilegiadíssima de todo centro histórico, e escuto com clareza quando toca os sinos)? Não acreditei, que coincidência, meu Deus! Arrepiei-me todinha! Nossa, pensei, mas esse samba é danado de bom, vou ouvir de novo... E mais uma vez a coincidência, na parte que falava dos sinos, de novo o repique na catedral em alto e bom som! Inacreditável, muita coincidência!!! E eu pensando: Mas é estranho, 10h30 da manhã e este sino tocando... Bom, mas esse samba é mesmo uma pintura, vou ouvir de novo... Moral da história só na terceira vez que fui ouvir, percebi minha manota, um micão mesmo! Claro que o som do sino fazia parte da faixa, não é Maria do Carmo? Errrr!

Unidos da Cambalhota 2008

O nosso bloco é de fé,
Defende a bandeira da tradição.

Na rua Direita eu ‘passo’
É o cenário da minha emoção
No coração da minha terra
Um som ecoa no ar,
É dele que venho falar

“Tens, tem, tens, tem”, tem ‘terentena’,
Tum, tum, tum, tum, dobra o repique,
Vem virando a marcação.
“Tencão, tencão”, é meu poema,
Dou cambalhota, imito os sinos de São João

Alvorada...
Sob o olhar dos sinos
Minha alma é barroca.
Do amigo sou irmão
Pois o sineiro é o ritimista de São João

Para ouvir o samba Cambalhota 2008, basta fazer o download no site do bloco: http://www.unidosdacambalhota.com.br/. As gravações do site e do CD são distintas. Mas todas as duas contém o repique do sino da Matriz.
Parabéns aos autores: Tido, Cristiano e André Dangelo
Foto: Capa do CD “São João del Rei: 50 anos de samba”

terça-feira, 3 de março de 2009

Ferve

Nestes primeiros dias da quaresma têm feito tardes brilhantemente ensolaradas e noites encantadoras, estreladas, com uma doce lua crescente e... também muito quentes! É deitar-se e começa o rola daqui, rola dali, levanta, joga água fria no pé que está queimando, deita novamente, tenta ficar quieto para chamar o sono, mas não aguenta, levanta de novo, liga o ventilador, toma água, deita mais uma vez, joga longe o lençol, e rola daqui, rola dali! Como é que se dorme com um calor desses? Parece até penitência pelos abusos talvez cometidos no carnaval! Por Jesus na cruz, misericórdia e refresco!


Foto: Pôr do sol na Serra do Lenheiro, um dia desses quente

segunda-feira, 2 de março de 2009

O catolicismo fala de 3 práticas durante o período da quaresma: a oração, a esmola e o jejum.
Oração: Você se dedica a tantas coisas no dia-a-dia não é mesmo? Tem a hora de se alimentar, trabalhar ou estudar, malhar, encontrar os amigos e se divertir. Não pode também tirar uma hora para Deus? Você lê a Bíblia? Ela foi escrita para você, não para intelectuais. Você pode pegar um pequeno trecho por dia e aos poucos vai descobrir que maravilhas estão contidas ali. A oração diária não precisa ser uma repetição de coisas, das quais você não reflete nada. No momento de orar é preciso se dedicar por inteiro, ficar em paz, num canto qualquer, sozinho e em silêncio, assim vai se conectar com Deus de uma forma plena. Pratique! Essa experiência pode trazer percepções agradáveis e transformadoras para o seu corpo e mente! Especialmente na quaresma, as igrejas realizam as orações da via-sacra, que são belíssimas e propõem grande reflexão. Diz a história que Maria foi a primeira a fazer a via-sacra, relembrando os passos e Jesus e meditando sobre cada passagem. Se você não puder ir a uma igreja, leia o que diz as estações da via-sacra e veja o que você pode tirar desta lição para você e para sua vida.

Esmola: a caridade anda junto com a prática do catolicismo, da oração, se você está inserido neste contexto, o ‘doar-se ao irmão próximo’ será uma conseqüência natural. Procure ler alguma coisa sobre a Campanha da Fraternidade deste ano. Será que você pode fazer alguma coisa?

Jejum: o exercício do jejum é muito antigo. Trata-se de um sacrifício de abster-se de algum alimento ou prática. O jejum nos traz a sensação de liberdade, nos faz entender que não somos escravizados por tal coisa ou tal prática. Que tal deixar de lado um pouco a TV ou a internet, isso vale principalmente para os adolescentes. Todos nós somos capazes do autodomínio, do equilíbrio e da temperança. O meu sacrifício é não tomar refrigerante até sábado de aleluia. E o seu?
Tudo isto foi baseado no sermão do Padre Geraldo durante a missa das 19h da Matriz, ontem. Uma quaresma espiritualmente boa para todos!
Foto: V Estação da Via-sacra, Largo da Cruz, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009